Mesmo com queda no juro, dívida de cheque especial de R$ 1.000 pode se transformar em R$ 2.500 em um ano
Nesta semana foi veiculado que o Banco Central estabeleceu um teto para os juros que os bancos cobram no cheque especial, que agora será de 8% ao mês no máximo (151% ao ano). Comparada à taxa média atual, que é de 12,4% ao mês, a nova tarifa ficou menor. Mas não se enganem, mesmo com o corte dos juros, sua despesa ainda é muito elevada e continuará sendo uma armadilha para os consumidores, indicam consultores do setor.
Cheque especial – exemplificações
De acordo com o planejador financeiro Carlos Castro, ao fazer uma simulação em que uma pessoa utilize R$ 1.000 no cheque especial hoje terá sua dívida multiplicada mais de quatro vezes em um ano, chegando a R$ 4.057,59, e deste montante, R$ 3.057,59 são só de juros. No entanto, com as novas regras, a dívida aumenta mais de 2,5 vezes, atingindo R$ 2.518,17, sendo R$ 1.518,17 de juros.
Dívida ainda é grande, apesar da queda do juro
Mesmo com a taxa que o BC estipulou seja menor agora, ainda assim a divida do consumidor será alta. Ainda mais quando é levado em consideração que a tarifa básica de juros no Brasil está em torno hoje de 5% ao ano.
Muitos correntistas se encontram atualmente neste tipo de enrascada. Hoje, o estoque de empréstimos concedidos pelos bancos no cheque especial é de R$ 26,5 bilhões. E essa conta não fecha, pois enquanto uns vão quitando suas dívidas, outros vão entrando neste barco.
Para entender melhor, com uma taxa anual de 305,9% ao ano, esse número de dívidas poderia virar R$ 107,7 bilhões em apenas 12 meses com a cobrança da taxa atual. Já com o novo teto da tarifa, de 8%, os juros anuais ficariam em 151%, que equivale a operações de R$ 67 bilhões.
A nova limitação de juros determinada pelo BC passa a valer a partir do dia 6 de janeiro de 2020.
Nova taxa do cheque especial
É importante ressaltar que ainda há uma novidade em relação a nova taxa do cheque especial. Durante a mesma decisão do limite de tarifa, o Conselho Monetário Nacional (CMN) criou uma regra que possibilita aos bancos cobrarem uma taxa dos clientes em virtude da oferta de crédito, mesmo que ela não seja utilizado.
Mas será cobrada esta taxa somente nos casos em que a contratação do cheque especial ultrapasse o valor de R$ 500. Para limite de crédito inferior, não haverá cobrança de tarifa. A taxa cobrada pode ser de 0,25% sobre o valor do limite que ultrapassar os tais R$ 500. Sendo assim, a tarifa será descontada dos juros a serem pagos se o cliente cair no cheque especial.
Na prática, se o consumidor possui um limite de R$ 1.000 poderá pagar 0,25% de tarifa sobre o limite de R$ 500. Isso significa R$ 15 ao ano. Já para quem tiver limite de R$ 5.000, os 0,25% incide sobre R$ 4.500, o que representaria R$ 135 no ano.
Para quem já é correntista, a taxa só será cobrada a partir de 1 de junho de 2020, caso os contratos não sejam negociados antes. E cabe á instituição financeira notificar ao cliente a sua incidência com 30 dias de antecedência.
Febraban
Em contrapartida à decisão do BC, A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), afirmou esta semana em nota que enxerga com preocupação as novas regras adotadas determinadas pelo Banco Central.
Em um trecho da nota é dito: “Medidas para eliminar custos e burocracia e estimular a concorrência são sempre mais adequadas aos interesses do mercado e dos consumidores.”
De acordo com a entidade, desde julho de 2018, quem utiliza mais de 15% do limite do cheque especial por 30 dias consecutivos deve ter acesso a uma linha de crédito mais barata para poder parcelar o valor. Anunciada pela Febraban em abril do mesmo ano, a medida não surtiu efeito nesta modalidade de crédito. E o volume das dívidas só cresceram, passando de R$ 24,2 bilhões para os R$ 26,5 bilhões atuais. E apesar da média cobrada ter recuado, ela seguiu acima dos 300% ao ano, de 321% em abril de 2028, para 305,9% hoje.
Além disso, a entidade também divulgou que entre julho de 2018 e outubro deste ano, cerca de 17,5 milhões de consumidores trocaram o cheque especial rotativo.
Fonte: UOL – Finanças Pessoais
*Foto: Divulgação