O número de mulheres que empreendem informalmente cresce a passos largos no Brasil. Segundo dados recentes divulgados pela Agência Brasil, mais da metade das mulheres que têm um negócio próprio atuam sem registro formal, 70% delas são mães e o rendimento médio mensal é de aproximadamente R$ 2 mil.
Na grande maioria dos casos, essas mulheres transformaram habilidades cotidianas, como cozinhar, costurar ou vender produtos artesanais, em fonte principal de renda familiar, cujo maior objetivo é sobreviver.
Para a psicóloga Michele Bouvier Sollack, especialista em saúde financeira para mulheres e autora do livro “Rica de Propósito”, esse movimento é um reflexo direto da busca por autonomia e flexibilidade diante das dificuldades do mercado de trabalho. “As mulheres empreendedoras precisam sair do ciclo de “empreender para sobreviver” e aprender e buscar condições e apoio para “viver para empreender”.
A realidade das mães empreendedoras
Os dados mostram que a maternidade está entre os principais fatores que levam as mulheres à informalidade. A falta de vagas com horários flexíveis e o alto custo de creches e escolas particulares fazem com que muitas mães deixem o emprego formal. Empreender, nesse contexto, se torna uma alternativa viável para conciliar renda e cuidado com os filhos.
“Essas mulheres precisam lidar com múltiplas jornadas. São gestoras, mães, donas de casa e responsáveis pelo sustento do lar. O problema é que, sem apoio, muitas acabam reproduzindo o ciclo de exaustão e endividamento”, explica Michele. Segundo ela, o primeiro passo para mudar essa realidade é o acesso à informação sobre planejamento financeiro e ferramentas de gestão simples.
Obstáculos estruturais e falta de crédito
Mesmo representando uma parcela expressiva do empreendedorismo nacional, as mulheres ainda enfrentam grandes desafios como o acesso ao crédito e a programas de capacitação. Os levantamentos mais recentes apontam que a maioria das empreendedoras informais utiliza recursos próprios ou empréstimos de familiares para iniciar e manter seus negócios.
Estudo da Serasa / Opinion Box mostra que 68% das mulheres empreendedoras já tiveram pedido de crédito negado. Ainda segundo o estudo, 87% das entrevistadas já se endividaram.
“O sistema financeiro tradicional ainda não enxerga o potencial dessas empreendedoras. Muitas não têm histórico bancário, garantias ou documentação adequada, o que as exclui de linhas de crédito. Isso gera uma dependência de soluções informais, que nem sempre são sustentáveis”, observa Michele.
Ela ressalta que o apoio de políticas públicas e de programas de capacitação voltados especificamente para mulheres é fundamental para reduzir essa desigualdade. “Sem orientação, o empreendedorismo feminino acaba sendo uma estratégia de sobrevivência, e não de prosperidade”, complementa.
O papel da educação financeira
Michele, que atua há mais de uma década com programas de saúde financeira voltados ao público feminino, destaca ainda que o fortalecimento das empreendedoras informais passa pela educação financeira como ferramenta de autonomia e planejamento.
“Muitas dessas mulheres não têm clareza sobre fluxo de caixa, precificação ou separação entre finanças pessoais e do negócio. Quando entendem esses conceitos, ganham poder de decisão e conseguem projetar crescimento”, explica.
Ela reforça que a alfabetização financeira deve ser adaptada à realidade das mulheres com métodos acessíveis que considerem o contexto familiar, o tempo reduzido e as limitações de recursos.
Redes de apoio e protagonismo feminino
Além do conhecimento financeiro, a especialista enfatiza a importância das redes de apoio e da troca de experiências entre mulheres. Iniciativas coletivas, como cooperativas e associações locais, têm se mostrado eficazes para fortalecer empreendedoras informais e promover autonomia.
“Quando as mulheres se unem, criam um ambiente de aprendizado e fortalecimento mútuo. Uma ajuda a outra a superar barreiras, compartilhar contatos e ampliar a clientela”, afirma Michele. Ela acredita que o senso de comunidade é uma das maiores forças do empreendedorismo feminino e um caminho essencial para reduzir a vulnerabilidade econômica.
A contribuição invisível para a economia
As empreendedoras brasileiras movimentam atualmente diversos setores da economia que vão da alimentação à beleza, passando por costura, produtos naturais e prestação de serviços. “Apesar de estarem fora das estatísticas oficiais, essas empreendedoras são responsáveis por uma grande circulação de renda nas comunidades. Elas mantêm famílias, impulsionam o consumo local e geram empregos indiretos”, pontua Michele.
Sobre Michele Bouvier Sollack

Michele Bouvier Sollack, também conhecida como Mi Bouvier, é psicóloga, especialista em saúde financeira para mulheres e fundadora do C7Grupo Educação & Saúde, ecossistema voltado ao desenvolvimento de empreendedoras. Atua como mentora e palestrante na área de posicionamento e estruturação de negócios femininos, aliando ciência comportamental e gestão estratégica. À frente do OC7 Instituto, também coordena ações de captação de recursos e capacitação voltadas a mulheres e jovens em situação de vulnerabilidade social.
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