Estabelecer confiança no home office envolve criar formas de manter o entrosamento entre a equipe
Passados três meses do início da quarentena, trabalhar em casa tem gerado diversas reações das pessoas que a desenvolvem. Sem ter o tradicional olho no olho em uma sala de reunião é preciso criar uma alternativa para estabelecer cada vez mais a relação de confiança no home office.
Agora, as videoconferências entram no lugar das reuniões presenciais como uma nova linguagem corporal para atingir a mesma persuasão das interações pessoais. Isso requer mais atenção, pois é difícil captar completamente a reação do interlocutor sem ver direito sua expressão fácil em meio a outros rostos na mesma reunião virtual.
Relação de confiança no home office
Ciente disso, as empresas têm promovido oportunidades em que os empregados participam de cafés da manhã virtuais, happy hour, festas de aniversário e até coral online.
É o caso da empresa de seguros SulAmérica que realiza cafezinho no meio da tarde com aplicativo de reunião ligado ou ainda de lives assistidas em conjuntos pelas equipes no intuito de aproximar os funcionários.
Segundo Patrícia Coimbra, vice-presidente de Capital Humano da SulAmérica, em entrevista à revista EXAME:
“O que importa não é a tecnologia e sim o que a pessoa está falando. As dificuldades de entender o colega antes da pandemia podem aumentar agora. Então, o ideal é ser transparente e claro.”
Transparência, empatia e autogestão
Já para Roberto Picino, diretor-executivo da consultoria Michael Page, trabalhar remotamente não é uma tarefa fácil, e um dos principais desafios de interagir virtualmente é estabelecer uma relação de confiança no home office, baseada em transparência, empatia e autogestão:
“A relação de trabalho vai mudar para sempre. Por isso, a melhor forma de substituir o olho no olho é dar autonomia. Conversar e ouvir são as melhores ferramentas para aumentar a produtividade.”
Uma pesquisa da consultoria Gartner revela que as videoconferências conquistaram as empresas e indica que, até 2024, os encontros pessoais no mundo corporativo serão apenas 25% do total. Muitas companhias já informaram a decisão de estender o home office após a pandemia.
Importância do escritório
Por outro lado, o sócio-diretor da Consumoteca, o antropólogo Michel Alcoforado, afirma que a pandemia pode até ressaltar a importância do escritório:
“Estamos perdendo esse contexto. E percebemos que o trabalho não é só lugar de trabalho. Por isso, é preciso saber quem é o meu chefe, onde ele vive, como é a sua família e vice-versa. Não podemos tratar todo mundo igual. Não somos máquinas.”
Vulnerabilidade e síndrome de burnout
Para o psicoterapeuta e professor da Fundação Dom Cabral e Copped/UFRJ, Roberto Aylmer, um dos erros mais comuns cometidos no atual momento é o de não demonstrar vulnerabilidade. Ele diz que deixar escondido fatores como ansiedade, depressão e estresse extremo, caso da síndrome de burnout, podem colocar em risco toda a relação de confiança durante o home office:
“Hoje, perguntar “como você está?” ganhou um novo significado. Colocar as pessoas em competição para aumentar a produtividade não funciona mais. Para a relação entre colaboradores e chefes funcionar, é preciso estabelecer novos indicadores, calcados na colaboração e no trabalho em conjunto. Ninguém vai conseguir nada sozinho. O time é o novo herói.”
A pandemia de covid-19 trouxe à tona a necessidade da terapia online para tratar ansiedade, depressão e outras questões, além de uma oportunidade de negócio para o setor. É o caso da startup luso-brasileira Zenklub que recebeu um aporte de R$ 16,5 milhões em maio.
De acordo com especialistas e empresas, em tempos de distanciamento social a solução apontada e que ao mesmo tempo é bastante desafiadora durante as reuniões online é: saber ouvir o outro.
Fonte: revista EXAME
*Foto: Divulgação