Agtechs e governança: por que esta aposta?

Agtechs e governança

Agtechs e governança terá pesquisa apresentada neste mês pela PWC Brasil para investidores interessados em aspectos antes exigidos apenas de empresas consolidadas

A consultoria PWC Brasil prometeu para este mês revelar os dados de uma pesquisa sobre governança em startups, feita com 169 startups brasileiras. Sendo assim, startups do agro, as agtechs, estão incluídas na conta. Apesar de parecer um contrassenso, trata-se da natureza de uma startup errar, errar e errar novamente, até acertar. Porém, em tempos de incerteza diante dos reflexos de uma economia pós-pandemia difícil de engrenar, cuidar desse pilar de sustentação de um negócio entra, definitivamente, no farol de agentes do mercado.

Mas, vale destacar que em junho deste ano, a agtech Clicampo levantou R$ 40 milhões, liderada por dois fundos, a Valor Capital Group e a Maya Capital.

Agtechs e governança

É o que explica Isadora Faria, gerente sênior de novos negócios e inovação da PwC Brasil:


“É uma pesquisa que dá insights do que acontece no mundo dos investimentos nesse setor. A governança reflete o amadurecimento das empresas.”

Ela disse ainda que há quatro pilares, segundo a metodologia de pesquisa usada, que foi o guia de governança corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

“O que a gente espera é que as startups adotem as incertezas do seu modelo de negócio, mas que elas também possam mitigar e reduzir os riscos associados à gestão”, afirma Isadora. “Estamos vivendo um momento de instabilidade econômica e de cautela na alocação dos recursos.”

Pilares

O primeiro pilar se refere à criação de tomadas de decisão e a definição de papéis e responsabilidades. A pesquisa mostrou que 41% dos investidores concordam que a sua implementação deve ocorrer na fase de tração, que é o recomendado pela metodologia, porém, só 37% das startups praticam. O segundo pilar é a prática de revisão e aprovação da estratégia de médio longo prazos, sugerido que seja feito na fase de escala e que 35% dos investidores já veem esse cenário. Isadora explica aqui que “é um ponto super importante para startups do agro, onde 75% já estão praticando”. De modo geral, entre os investidores, 41% afirmam que a expectativa é de que essa prática seja adotada antes, na fase de tração, mas só 31% das startups, de fato, possuem um processo formal de revisão da estratégia.

Já os outros dois pilares são a criação do código de conduta e de políticas internas, com 38% dos investidores apontando para a fase de escala. Nas startups de agro esse índice sobe para e 50%.

“Como no pilar anterior, vimos que a maior parte dos investidores, 41%, também esperam ver [políticas internas]  na fase de tração e só 25% das startups do agro já estão praticando.”

E ressaltou:

“É uma ressalva, porque as startups do agro, a sua maioria transacionam com corporações e naturalmente corporações se preocupam mais com a condução e com a forma como os negócios são conduzidos.”

Oportunidades no cenário

Há cinco anos, no ecossistema da AgTech Garage, há 80 empresas parceiras. Entre elas estão multinacionais como Bayer, Bunge, John Deere, Cargill, Ceva, e brasileiras como Suzano e Camil.

Segundo José Tomé, CEO do AgTech Garage:

“Existe muita oportunidade para quem, também, se relacionar com as grandes empresas. Falo que nos próximos cinco anos vai ser difícil uma startup dar certo, sem ter pelo menos uma relação estratégica com uma grande empresa.”

E completou que as garagens de antigamente não existem mais, que hoje são outras. No caso, ele se refere a ícones que começaram assim, como: Amazon, Apple, Google, Microsoft e até a Disney.

O plano de Tomé é chegar a 100 empresas parceiras o mais rapidamente possível, o que para ele deve ocorrer ainda neste ano. Ele aposta nas oportunidades, principalmente na expansão internacional do ecossistema que comanda, em conexões mais fortes para a cadeia de startups.  Além disso, Tomé fala em um novo modelo de relações nos ecossistemas de inovação.

Mercado e investimentos

Por outro lado, Flavio Zaclis, sócio diretor da Barn Investimentos, que tem em seu portfólio startups como a Grãodireto, Rumina, Agroland e Strider, diz que o agro deve se aproveitar do potencial de mercado e que os investimentos vão continuar acontecendo, porém com um apetite mais seletivo.

“As bases para o mercado de empreendedorismo e de investimentos, sejam de Corporate Venture Capital ou Venture Capital já existem, o que não tínhamos há 10 anos. Mas precisamos ser mais cautelosos para fazer os investimentos no mercado brasileiro.”

Ele disse ainda que o cenário de alguns anos atrás já não existe e que os investidores vão apostar em “modelos de negócio que fazem sentido”.

Por fim, segundo um levantamento da plataforma de inovação Distrito, 327 transações de startups brasileiras receberam US$ 2,92 bilhões em investimentos no primeiro semestre de 2022, valor 44% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Em 2021 fora US$ 5,26 bilhões em 416 transações. Poré, ainda há dinheiro no mercado. Segundo a mesma plataforma a previsão global de investimento em startup neste ano deve ficar entre US$ 10,7 bilhões e US$ 12,9,  faixa de valores 50% acima de 2021, ano em que os investimentos foram de estrondosos 174%.

*Foto: Reprodução