Como reconhecer se uma promoção pode ser uma cilada

como reconhecer se uma promoção pode ser uma cilada

Muitas pessoas que atuam em grandes empresas almejam com o tal sonhado reconhecimento e, consequentemente, aumento de salário. Mas é importante saber reconhecer se uma promoção pode ser uma cilada também.

À primeira vista ser chamado para assumir mais responsabilidades, mas sem elevação nos ganhos nem sempre é uma boa proposta. É preciso avaliar com muito cuidado se realmente vale a pena trabalhar por mais horas sem nenhuma compensação financeira e aprendizado pertinente à carreira para o futuro.

Liderança que pode ser interessante a médio prazo

Tem empresas que deixam muito claro ao funcionário que não podem dar um aumento imediato por questões de caixa, por exemplo. No entanto, em alguns casos é interessante topar este desafio para seu próprio currículo profissional.

Mostrar que quer aprender mais, para lá na frente ser recompensado é bom teste para que as companhias avaliem se o funcionário tem reais condições de assumir um cargo de comando no setor compatível com sua profissão.

Como reconhecer se uma promoção pode ser uma cilada

Todavia, há situações em que não é interessante abraçar logo de cara mais responsabilidades. Muitas vezes este pode ser um falso reconhecimento apenas para atribuir mais tarefas ao colaborador, quando a empresa se encontra em crise financeira e foi forçada a cortar pessoa.

Esta nova oportunidade pode ser encarada como uma “promoção fantasma”. Aquela promessa que foi dita no passado para rearranjar o setor imediatamente com a falta de mais pessoas no departamento.

Muitas companhias enfrentam momentos de crise no mundo todo. De acordo com a consultoria americana Robert Half, só em 2018, 39% das companhias afirmaram que este é um fator comum no meio corporativo. Já 64% dos profissionais admitiram estar dispostos a aceitarem mais tarefas em momentos de crise financeira da corporação.

No entanto, segundo o especialista em gestão de pessoas e processos, da consultoria Blue Numbers, João Villa:

“Se a empresa mantém a pessoa no mesmo lugar, e ela apenas acumula responsabilidades, aí não é tão interessante”.

Além da compensação financeira

Para aceitar o desafio de desempenhar mais tarefas diárias sem aumento de salário logo no início, é bom o funcionário pesar três fatores:

  • Autonomia para tomar decisões;
  • Poder agregar conhecimento, transitando em diferentes rodas de relacionamento;
  • Novos aprendizados integrados aos objetivos profissionais.

Com estes pensamentos em mente é mais provável que o profissional consiga uma melhor qualificação em outra empresa no futuro. Pois, ele agregará conhecimento para que seu currículo se destaque em outros lugares ou na empresa em que já atua.

Este foi o caso da atuante em ciências contábeis, Thaís Barreto de Souza. Aos 24 anos, já faz um ano em que ela topou o desafio de acumular mais funções na empresa onde trabalha. Aceitar esta incumbência lhe proporcionou em dozes meses o aumento salarial em 40%. Neste caso, ela ainda vive com os pais e, portanto, tem um apoio familiar. Thaís identificou a promoção como uma real oportunidade de crescimento.

Ela disse à revista EXAME:

“Eu sabia fazer todo o serviço, e a empresa disse que eu teria a oportunidade de coordenar o departamento. Se desse certo, havia a possibilidade de um aumento, mas não era certeza”.

Durante este processo, ela teve acompanhando de um consultor de gestão contratado para realizar mentorias semanais com Thaís. Seis meses depois, ela assumiu mais uma coordenação, agora do setor de contas a pagar. Com isso, passou a liderar uma equipe de nove funcionários. Ela reconhece que não é toda companhia que dá esta chance de crescimento e em tão pouco tempo, além de todo suporte.

Quando não devemos aceitar uma promoção

Situação contrária foi enfrentada pelo engenheiro de computação Alexandre Abdalla, hoje com 34 anos.

Abdalla já havia atuado por dois anos em cargo de gestão sem aumento, em uma consultoria de tecnologia. Em seguida, foi trabalhar em uma grande instituição financeira e novamente passou por esta condição.

No banco ele desempenhava a função de analista de sistemas, quando foi “promovido” a gerente de projetos. A partir daí passou a liderar equipes sem qualquer remuneração a mais por isso.

Porém, a instituição deixou claro na ocasião que não promoveria ninguém de fato pelos próximos dois anos em virtude de ter acabado de se fundir a outro banco.

Na mesma época, a esposa de Alexandre estava empreendendo no setor de comércio, estavam recém-casados. Neste instante, Abdalla enxergou que não poderia continuar a ser gerente de projetos sem uma compensação financeira. Sua companheira ainda não havia tido retorno no próprio negócio.

Neste tipo de situação, ele optou procurar trabalho em outro lugar que pagasse mais pela mesma função exercida no banco. E foi o que fez, saiu da instituição financeira para trabalhar em outro lugar e ainda ganhar 80% mais.

Sinais que não devemos ignorar

Após avaliar os prós e contras de um desafio imposto por uma empresa, o funcionário também levar em conta suas emoções.

Sobre esta questão, psicóloga especialista em liderança nas organizações e professora do Insper, Maria Elisa Moreira, afirma:

“O mais importante é que não fique uma sensação de injustiça ou exploração, até porque isso vai impactar o desempenho do profissional e prejudicar sua carreira no futuro”.

No entanto, o funcionário que sofrer alguma injustiça na empresa em que atua, ele pode procurar a Justiça do Trabalho. A lei trabalhista prevê que o empregado deve exercer apenas as funções para a qual foi designado. E as companhias não devem gerar um acúmulo de tarefas muito menos colocá-lo em um setor incompatível conforme o acordo de trabalho firmado entra ambas as partes.

Quando a Justiça reconhece o abuso da empresa, o funcionário obtém a correção salarial e de todos os benefícios, como férias, horas extras e 13º salário.

Fonte: revista EXAME

*Foto: Reprodução / Germano Lüders